À beira de uma guinada histórica nos mercados globais, as stablecoins já superam US $230 bilhões em valor de mercado e apontam para aquisições de mais de US $1 trilhão em títulos do Tesouro dos EUA até 2030. É esse o cenário revelado no relatório Digital Dollars, do Citi Institute, que combina a expertise de Citi, PwC e Banco Mundial para mostrar como regulamentações recentes, do MiCA europeu à ordem executiva americana de janeiro de 2025, estão prestes a catapultar blockchain e ativos digitais para o centro das finanças e da gestão pública.

Publicado como parte da série Global Perspectives & Solutions pelo Citigroup Global Markets, o estudo foi coordenado pelo Citi Institute e contou com contribuições de especialistas do Banco Mundial, Stellar Foundation, Mastercard, PwC, entre outros líderes de organizações multilaterais e governos.

Stablecoins impulsionam nova era financeira

O relatório destaca que, ao final de março de 2025, o valor total das stablecoins ultrapassou US $230 bilhões, trinta vezes maior em relação a 2020, impulsionado pela integração crescente de ativos digitais em instituições financeiras tradicionais e por fatores macroeconômicos, como a demanda pelo dólar em mercados emergentes. A análise de cenários projeta que, em um cenário base, o fornecimento de stablecoins pode atingir até US $1,6 trilhão em 2030, variando entre US $0,5 trilhão e US $3,7 trilhões nos cenários pessimista e otimista, respectivamente.

Esse crescimento gera um efeito colateral de grande relevância para o mercado de títulos do Tesouro dos EUA: um arcabouço regulatório claro para stablecoins obrigaria seus emissores a lastrear cada unidade em ativos de baixo risco, o que poderia resultar em mais de US $1 trilhão em novas aquisições de Treasuries até 2030, fazendo desses emissores detentores de títulos comparáveis aos maiores investidores institucionais atuais.

O timing para essa transformação é atribuído a avanços regulatórios recentes, como a Markets in Crypto Asset Regulation (MiCA) na União Europeia e a ordem executiva dos EUA de janeiro de 2025, que criou um grupo de trabalho para desenhar uma estrutura federal para ativos digitais, criando um ambiente favorável à integração das stablecoins em sistemas de pagamentos tradicionais.

Do ponto de vista das instituições financeiras, as stablecoins não se apresentam apenas como um novo instrumento de reserva de valor, mas também como um vetor para produtos inovadores. Os bancos podem atuar como custodiante de reservas de Treasuries, intermediários no mercado de títulos, gestores de liquidez para emissoras de stablecoins e até usar essas moedas digitais como infraestrutura de pagamentos, incluindo integração a redes de cartões e soluções 24/7 de liquidação.

Revolução da administração pública com o uso da tecnologia blockchain

No âmbito público, o blockchain surge como uma ferramenta para modernizar processos legados, com casos de uso que vão desde o acompanhamento em tempo real de gastos públicos até a gestão de subsídios, registro de documentos, campanhas humanitárias, tokenização de ativos e identidade digital.

Um exemplo emblemático é o FundsChain, plataforma do Banco Mundial desenvolvida em parceria com a EY para rastrear desembolsos e gastos de projetos em tempo real. Ao substituir relatórios manuais por tokens representativos de cada transação, o sistema garante visibilidade e confiança de que os recursos chegam aos beneficiários corretos, combatendo fraudes e reduzindo custos operacionais.

Na gestão de registros públicos, soluções como o OpenCerts de Singapura permitem a emissão e verificação de certificados acadêmicos à prova de adulteração, enquanto projetos de registro de imóveis na Geórgia utilizam o Bitcoin para validar transações de propriedade, fortalecendo a segurança e a eficiência dos serviços de cartório.

Em cenários de crise, a tecnologia blockchain também tem sido empregada em campanhas humanitárias. A UNHCR, por meio da rede Stellar, implementou um sistema que rastreia a distribuição de auxílio a refugiados em tempo real, garantindo transparência e autonomia a indivíduos sem acesso a serviços bancários tradicionais.

A tokenização de ativos amplia ainda mais o potencial do blockchain no setor público. O European Investment Bank emitiu seu primeiro título digital de EUR 100 milhões em 2021, e, em 2022, lançou o projeto Venus, com um eurobond tokenizado em blockchain privada usando CBDC de atacado; iniciativas semelhantes acontecem em cidades como Lugano, na Suíça.

A identidade digital, por sua vez, avança com programas como o de Zug, que desde 2017 oferece IDs auto-soberanas em Ethereum, e a implementação brasileira do b-Cadastros, uma iniciativa da Receita Federal do Brasil (RFB), em parceria com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), que provê uma plataforma de compartilhamento de dados com o uso de tecnologia blockchain para estados, municípios e órgãos da administração pública.

Embora as perspectivas sejam promissoras, o relatório adverte sobre desafios significativos: a necessidade de padrões de interoperabilidade, o alto custo de transformação de infraestruturas legadas, questões de privacidade e confidencialidade, além da urgência de frameworks regulatórios claros e de mecanismos para mitigar riscos de uso ilícito.

O "momento ChatGPT” do blockchain

O ano de 2025, segundo o Digital Dollars, pode ser o “momento ChatGPT” do blockchain, o ponto de virada em que ativos digitais e aplicações descentralizadas se entrelaçarão a sistemas financeiros e públicos, impulsionados por maior clareza regulatória e iniciativas de modernização. Se as tendências projetadas se confirmarem, as próximas décadas testemunharão uma revolução na forma como valor e informação são geridos, promovendo eficiência, transparência e confiança nas instituições globais.

Tenha acesso ao relatório completo aqui: Digital Dollars - Banks and Public Sector Drive Blockchain Adoption

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Sobre a Wireshape

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